O som da independência
Bandas fora do circuito comercial fonográfico de BH mostram a força do trabalho musical
Conhecida em todo o país como a capital dos botecos, Belo Horizonte também pode se orgulhar de um novo título: Capital Nacional do Rock Independente. A cidade é famosa pela grande concentração de bandas, e já revelou nomes como Skank, Jota Quest, Pato Fu, Tia Nastácia e Sepultura. Para conferir, basta dar uma volta pelas ruas em uma noite de sexta-feira.
Os famosos "inferninhos" estão lotados e, no palco principal, uma banda formada por garotos que tentam ganhar a vida como a nova sensação do rock dá as caras. A quantidade de festivais e concursos promovidos por casas de shows e bares é outra oportunidade para esses garotos, que mal saíram da escola, mostrarem do que são capazes.
Foto: Divulgação |
O baixista da banda Hormônio (foto), Pedro Mendes, de 18 anos, acredita que a rotina do cenário independente é complicada. Ele afirma que o circuito independente, mesmo que ganhe forças a cada dia na cidade, desencadeia uma séria de desafios para quem se arrisca nele. "Muito investimento deve ser feito em bons instrumentos, estúdio para ensaio, estúdio para gravação, manutenção nos instrumentos, condução, etc. A cena independente oferece muito pouco para as bandas que estão começando. Por isso, se não têm dinheiro ou alguém que invista bastante, é bom se prepararem para enfrentar uma barra maior ainda", relata Pedro, cuja última apresentação da banda foi no Pop Rock Café, no início do mês de Junho.
Embora as bandas consigam mais espaço para apresentar o seu trabalho, a grande dificuldade hoje é conseguir divulgação sem ter que gastar muito com isso. É comum as bandas terem de pagar para tocar em uma casa de show ou consignar o serviço quando são muito novas, ou seja, o dono do estabelecimento fica com um percentual dos ingressos vendidos.
Como a banda não tem público necessário para custear os ingressos, a apresentação da noite acaba saindo do bolso dos integrantes. Com o tempo e com público já conhecedor do trabalho, os músicos partem para uma nova etapa do ciclo. Dessa vez, eles não pagam para tocar em festivais ou boates, mas também não recebem.
Segundo Pedro, existem três tipos de produtores: "aquele que faz o evento direito e tem a segurança de que vai dar certo, este não cobrará para a banda se apresentar; o que não está seguro de que seu evento vai dar certo e, por isso, vai cobrar para ter um caixa caso algo dê errado; e aquele que sabe o que está fazendo, mas, mesmo assim, cobra para obter um lucro maior. Eu sou indiferente a isso, pois o que acontece acaba não me atingindo muito, mas, por outro lado, acredito ser falta de consideração com quem realmente faz um bom trabalho e quer mostrar isso para o público. Afinal, a música é o trabalho da banda, e alguém gostaria de pagar para trabalhar?"
O vocalista da banda Linu, Daniel Galvão, 21 anos, que já se apresentou em várias casas de show da capital e em eventos como o Festival de Inverno de Ouro Preto em 2006 e 2007, diz que uma banda independente precisa passar por diversos obstáculos até conseguir se firmar no mercado. "Tanto a divulgação, quanto a marcação de shows, quando não se tem um empresário, que é o caso da minha banda, são frutos unicamente do esforço dos integrantes do grupo. O custo de toda a aparelhagem necessária é bastante elevado", diz Daniel, que há cinco anos está na estrada com a Linu.
Publicado em: Metrô Jornal Online
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Alanis Morissette canta os “Sabores do Entrelaçamento”
Um delírio musical
Extravagância de Björk é referência no universo da música pop
Sabe aquela máxima de que o importante é fazer a diferença? Parece que Björk entendeu muito bem a mensagem desse jargão e decidiu se tornar a diferença em pessoa. Tudo começa com o fato de ter nascido na Islândia, país onde a maior parte da paisagem é branca, graças à neve, o que não parece ser tão inspirador assim para um músico. Em segundo lugar, existe alguma outra cantora esquimó de que se tenha notícia? Mas as singularidades dessa artista de 43 anos não param por aí.
Björk ficou conhecida ainda na década de 80 quando assumiu os vocais da banda Sugarcubes que fazia um pop eletrônico e agradou a muitos. Com o término do grupo, no início dos anos 90, a cantora partiu para uma carreira solo carregando nas costas a responsabilidade de dar uma nova cara à música pop e lembrar ao mundo de que havia música de qualidade acima do Equador, mais precisamente o som que vinha de sua terra natal.
"Quando o esquisito começa a ficar interessante? Quando Björk está atrás do microfone. (...)". Foi assim que Zeca Camargo definiu a cantora em seu livro De A-Ha a U2 e, essas criações absurdas e a esquisitice interessante são apenas algumas das marcas da cantora.
O som da islandesa é indefinido. Quando se espera que ela lance outro álbum eletrônico ou cheio de barulhos esquisitos, o mundo se depara com um disco de raízes. Volta de 2007 parece mais uma coletânea de músicas tribais. O ritmo é o ponto forte desse disco e os tambores dão as caras sempre que solicitados. Até mesmo a voz da cantora, que sempre foi inconfundível e instigante, vai para o segundo plano.
A ousadia de Björk é tanta que, em 2004, ela lançou Medúlla. Nesse trabalho, ela deixa de lado os instrumentos e prioriza a voz. Não que ela faça capelas durante todo o disco, as melodias são feitas por várias vozes que, ao longo do álbum, vão dando ritmo às suas composições.
Mas essas estranhezas de Björk não se resumem apenas na música. Quem não se lembra da cantora vestida de cisne durante a premiação do Oscar, em 2001 quando concorria à estatueta de melhor canção original por I’ve Seen It All, trilha do filme Dançando no Escuro, de Lars von Trier. Os videoclipes também traduzem sua música em perfeita harmonia. São quase obras de arte em movimento que não fazem sentido algum. A diferença de Björk está exatamente aí. Conseguir transformar o inimaginável em música, fazer o estranho parecer belo e soar comum, além de surpreender fãs e críticos a cada novo disco.
Alanis Morissette canta os “Sabores do Entrelaçamento”
Após quatro anos fora dos palcos, cantora retorna com um disco totalmente experimental.
Quem conhece Alanis Morissette sabe de sua poderosa veia confessional. Em 1995, a garota de 21 anos surpreendeu o mundo com um álbum cheio de raiva e agressividade. Jagged Little Pill, seu disco de estréia, vendeu 28 milhões de cópias em todo o mundo e fez Alanis ficar conhecida por sua inconsolável raiva. Após quatro anos longe dos palcos, a canadense está de volta com seu novo álbum de inéditas, Flavors of Entanglement. Produzido por Guy Sigsworth, que já trabalhou com Seal, Björk e Madonna, o álbum mistura o rock característico das canções de Alanis com batidas eletrônicas, especialidade de Sigsworth que é conhecido no mundo da música por suas produções pop-dance. Assim como em seu último trabalho, So-called chaos, de 2004, as letras falam de experiências próprias da cantora.
Em Flavors of Entanglement, Alanis explora “os sabores do entrelaçamento”, se agarrando às passagens que ela teve durante a última fase de sua vida, em especial, ao término de seu relacionamento com o ator Ryan Reynolds. O resultado são canções fortes, algumas até lembram a clássica You Oughta Know. Underneath, o primeiro single do álbum, e “Straitjacket” são duas das músicas em que Morissette desabafa sobre a dor do fim de um relacionamento. Citizen of the Plantet mistura instrumentos indianos com guitarras pesadas e lembra a fase “paz e amor” da cantora. As baladas são especialidade de Alanis, o que ela deixa bem claro em Not as We e Torch. Com o piano ao fundo, encontramos uma Alanis que luta bravamente com o recomeço e a saudade. Giggling Again For No Reason e Moratorium flertam diretamente com o eletrônico proposto por Guy Sigsworth, e em Versions of Violence, a artista trata dos estágios da violência com guitarras distorcidas acompanhadas por loops e beats.
Flavors of Entanglement é, em alguns momentos, um álbum complexo e indecifrável. Embora o produtor do disco já tenha trabalhado com artistas do universo eletrônico, o estilo segue totalmente diferente, não explorando o psicodelismo de Björk e, muito menos, o pop de Madonna. Ao lado de Guy Sigsworth, Alanis Morissette fez um trabalho sensível e intenso, dando identidade própria a cada canção. Um techno - rock, às vezes um techno - pop embalado por melodias difíceis de serem interpretadas e letras cada vez mais sinceras e espinhosas. Aos 34 anos, Alanis não é mais a garotinha revoltada que mandou o ex-namorado às favas. Com seu último trabalho, a cantora se firma como um dos grandes nomes do rock feminino. Foi-se um pouco da ira, mas ficou a habitual inspiração.
Quando a tradição fala mais alto
Influência da música celta dá uma nova cara ao trabalho do Flogging Molly
O que acontece quando uma banda de punk rock formada em Los Angeles, Estados Unidos, no ano de 1997, mescla música celta em seu trabalho? Flogging Molly! Inspirados pelos irlandeses do The Pogues, que surgiu no início da década de 80 e chegou ao fim em 1996, a Flogging Molly é considerada por muitos como a melhor banda do gênero na atualidade. Além do mais, eles fizeram o mundo se lembrar de que a Irlanda não sobrevive somente por causa do U2 e dos Leprechauns.
O primeiro álbum da banda, Alive Behind the Green Door, lançado em 1998, foi produzido de forma independente e gravado ao vivo. Dois anos mais tarde, o septeto americano lançou seu segundo álbum, Swagger, mas, desta vez, eles já haviam assinado contrato com uma gravadora e o disco foi produzido dentro de um estúdio. A mistura de música tradicional e punk rock agradou logo o público e o Flogging Molly precisou esperar pouco tempo para que o reconhecimento do seu trabalho viesse. No mesmo ano, eles começaram a freqüentar os mais badalados festivais de punk mundo afora.
O último álbum da banda, Float, lançado em março deste ano, investe menos no trio clássico do punk rock: baixo, guitarra e bateria. Nesse novo trabalho, a influência da tradicional cultura celta é mais evidente. Instrumentos como banjo, gaita, violino e acordeom assumem o papel principal nas músicas. As letras ficam por conta do vocalista irlandês Dave King que resolveu gravar todo o disco no seu país de origem. Não se sabe ao certo se foi a influência de sua terra natal ou se a inspiração de King estava nas alturas durante o processo de criação das músicas, mas o resultado são canções mais lentas, que parecem ter saído da trilha sonora de O Senhor dos Anéis. O som rápido e enérgico da banda fica de lado e o clima medieval predomina durante todo o disco. Com Float, o Flogging Molly fez um trabalho de raízes que lembra a época em que os homens se divertiam em tavernas escuras e sujas após enfrentar o inimigo na batalha.
Da calçada da fama para os palcos
Juliette and The Licks, banda da atriz Juliette Lewis, tem som de primeira e muita pose
É comum ver atrizes hollywoodianas saírem dos estúdios e se aventurarem no mundo da música. Algumas até tentam ser bem sucedidas, mas, acabam provando ser um verdadeiro fiasco. Isso não aconteceu com uma das queridinhas da América: Juliette Lewis. A atriz, que já participou de sucessos como “Um Drink No Inferno” e “Cabo do Medo” tem outros talentos para mostrar.
Juliette and The Licks é o nome de seu projeto artístico fora das telas. Formada em 2003, a banda já possui três álbuns lançados: Like a Bolt of Lightning (2004), You're Speaking My Language (2005) e, o disco que os tornou conhecidos no país, Four On The Floor (2006) que conta com a participação de David Grohl do Foo Fighters na bateria.
Para quem gosta de barulho, a banda de Lewis é uma ótima pedida. O som do grupo tem um estilo meio hard rock, meio poser. Guitarras nervosas, batidas rápidas que se confundem com o punk rock. Os vocais roucos e, muitas vezes, masculinos de Juliette deixam as músicas ainda mais divertidas e agradáveis. A moça até poderia ter aproveitado da sua condição de celebridade para promover sua banda, mas a qualidade do som do grupo é maior do que a fama de Lewis.
No palco, o quinteto americano impressiona ainda mais. A performance, às vezes quase teatral de Lewis dá um toque especial às músicas que parecem ser a trilha sonora perfeita para a atriz/cantora cheia de caras e bocas. Vestindo sempre um figurino sensual, Juliette agrada ao público, em especial aos homens que se encantam, não só por sua beleza, mas, também, pela potência de sua voz e pela explosão da banda.
Diversificar é preciso
Cantor libanês torna-se a nova sensação do público gay. E cai no gosto dos héteros também
Ele canta como Freddie Mecury e toca piano como Elton John. Sua música é uma mistura de tudo aquilo que havia de mais divertido nas décadas de 1970 e 1980. Canções que te fazem querer dançar mesmo quando não há clima para isso. Tudo muito otimista, muito divertido, o tipo de som que te coloca para cima em qualquer situação. Os críticos definem Mika como um astro kitsch (brega), ou que tenta ser a nova sensação gay da música. Mas ao ouvir o som, você se dá conta de que ele é simplesmente Mika.
Nascido no Líbano, em 1983, o rapaz se mudou cedo para a Inglaterra e começou a estudar música. Após alguns anos, ele lançou seu álbum de estreia, Life In Cartoon Motion. Disco que já chama atenção pela capa: colorida e artisticamente planejada. O ditado “não se pode julgar um livro pela capa” não se aplica mesmo ao trabalho de Mika. Capa de álbum muito bonita, conteúdo melhor ainda. Letras irônicas, divertidas e misteriosas. Ás vezes você tem a sensação de que Mika está tirando sarro com a cara de um ex-namorado, ou então, que está contando a história de uma amiga que se iludiu, novamente, com um rapaz. Em uma das faixas, Lollipop, fica a dúvida: quem deve chupar o pirulito com vontade? Mika, ou a garotinha que é encorajada a não acreditar mais no amor? E esse pirulito tem mesmo o sentido da guloseima?
Tudo isso é Mika: uma junção daquilo que a música pop tem de melhor. Vocais poderosos que enchem o ouvido de qualquer um, guitarras gostosas e bateria bem marcada. Um piano perdido em alguma faixa e pronto: nasce mais uma sensação da música pop. Mas rotular o trabalho do cantor libanês é quase um afronte. Se ele mesmo deixa um mistério no ar quanto às suas letras e estilo musical, por que vamos perder tempo tentando definir quem é Mika? Melhor mesmo é se divertir ao som de Life In Cartoon Motion.
Site Oficial: www.mikasounds.com
Fabulosamente Muse
Banda britânica revela a força do rock europeu e se firma com um dos grandes nomes do rock mundial, ou do indie, ou do pop. Ou tudo de uma só vez.
Sabe quando você descobre uma banda por acaso e nunca mais consegue parar de ouvir as músicas? Com o Muse é mais ou menos assim. Formado nos meados da de 1990, Teignmouth, Devon, na Inglaterra, o trio conquistou meio mundo com um som que lembra vezes o Radiohead e, em outras, o eletrônico do underground europeu. Tudo muito bem misturado, por sinal.
Às vezes você quer chorar ouvindo alguma faixa de qualquer disco. E outras, quer sair quebrando tudo à sua volta. Os rapazes fazem, de fato, música de qualidade. O trabalho da banda tem uma pitada de tudo que há de melhor na música: bateras pesadas, guitarras pesadas, teclados pesados e um vocal maravilhoso que fica por conta de Matthew Bellamy, destaque nas colunas de celebridades por ter assumido o namoro com a atriz norte-americana Kate Hudson, mas isso não é o mais importante. Importante mesmo é saber que, além desse trio britânico encher os ouvidos dos fãs, eles ainda são generosos. No site da banda (www.muse.mu) você pode baixar todos os álbuns já lançados. E olha que esses garotos têm material de sobra.
Até hoje, já lançaram cinco álbuns: Showbiz (1999), Origin Of Symmetry (2001), Absolution (2003), Black Holes and Revelations (2006), The Resistance (2009). Esse último disco do Muse merece mesmo destaque. Parece a trilha sonora perfeita para qualquer filme. Sempre existe um piano muito bem marcado na introdução das músicas, ou uma batida eletrônica vibrante e até um vocal bem dramático de Bellamy para mostrar que esses rapazes podem transitar com maestria entre as grandes bandas do pop rock mundial e também fazer a cabeça dos sempre muito exigentes fãs do Indie.
Vale a pena ouvir Muse pelo menos uma vez na vida. É certo que você vai querer escutar de novo... de novo e de novo.
Formação: Matthew Bellamy – vocal, guitarra, piano, teclado, composição, sintetizador.
Christopher Wolstenholme – baixo, vocal, teclado, sintetizador, gaita.
Dominic Howard – bateria, percussão.
Site Oficial: www.muse.mu
Até o último suspiro
Queens of The Stone Age mostra que tem fôlego para segurar o rock por muito tempo
O rock está morrendo. Pelo menos é o que afirmam os críticos mais pessimistas e alguns músicos já desiludidos com a carreira. O estilo que teve início na década de 50 no sul dos Estados Unidos, de fato não é mais o mesmo e tem passado por incontáveis mudanças desde que se espalhou mundo afora quando a intenção de várias bandas era mostrar toda a revolta contra um sistema ou apenas confirmar que não passavam de rebeldes sem causa. Mas, em meio a tantas especulações e descrenças, o Queens Of The Stone Age ainda sobrevive.
Originais de Seattle, nos Estados Unidos, a banda iniciou sua carreira em 1998 quando Josh Homme, o vocalista do grupo, depois de várias tentativas frustradas de se tornar um rockstar, decide investir em um novo projeto. Às custas dos próprios integrantes, eles lançam o primeiro álbum que levava o mesmo nome da banda. Após a estréia do disco, o grupo precisou apenas aguardar a aprovação do público. O que não demorou, pois a turnê de estréia da banda durou mais de dois anos e a crítica aclamou os novatos.
O que torna o trabalho do Queens Of The Stone Age tão interessante é a mistura que eles fazem ao longo dos cinco álbuns lançados. O som da banda passeia tranqüilamente pelo alt-metal (metal alternativo), pelo punk rock, pelo hardcore e pelos refrões grudentos e repetitivos. É o tipo de banda que consegue prender o ouvinte a cada nova música. Canções como No One Knwos e Go With The Flow do álbum Songs For The Deaf, de 2002, têm um clima desértico, com guitarras pesadas e baterias comandadas por ninguém menos que o ex-Nirvana David Ghrool, enquanto o último álbum da banda, "Era Vulgaris", de 2007, traz, além da participação de Julian Casablancas dos Strockes na canção Sick Sick Sick, um questionamento sobre a sociedade, como na faixa I'm designer de forma seca e crua, com melodias pesadas e, ao mesmo tempo muito simples, sem muita frescura e invenção.
Seria então o Queens Of The Stone Age a salvação do rock? Talvez essa não seja a intenção dos integrantes da banda, embora por várias vezes, eles sejam considerados os melhores da atualidade. Se a idéia do grupo é apenas fazer música de qualidade, eles não precisam mais provar que dão conta do serviço. Até porque, a cada novo trabalho desses americanos, eles se firmam no universo musical e o rock ganha mais uma chance de respirar.
A boa e nova PJ Harvey
Em seu último trabalho, a britânica desliga os amplificadores e investe em um som depressivo.
Mudar sempre pode ser uma decisão difícil. Quando essa mudança está relacionada ao mundo da música, o resultado se torna ainda mais assustador. Desistir de tocar um instrumento, trocar de gravadora ou empresário, são escolhas que os artistas fazem para dar um novo rumo à carreira. Uma das cantoras mais influentes da década de 90, Polly Jean Harvey, ou simplesmente PJ Harvey não é mais a mesma.
Desde o início de sua carreira, em 1992, com a banda Polly, a britânica impressionava por suas letras que abordavam idéias sobre possessividade, loucura e comportamento humano. Tudo isso, embalado por melodias cheias de guitarras distorcidas que deixam o rock alternativo inglês tão interessante e fizeram com que PJ se tornasse uma das cantoras mais bem sucedidas de toda uma geração.
No seu mais recente trabalho, White Chalk de 2007, PJ esqueceu de suas origens rockeiras e resolveu dar uma nova cara ao seu som. Vocais sussurados e que muitas vezes se esbarram na melancolia são a caracteristica mais marcante desse último trabalho da cantora. Guitarras praticamente não existem nesse oitavo álbum de estúdio de Harvey, e a moça até arrisca tocar piano, mesmo que o som do instrumento pareça com o que é tocado por uma criança de quatro anos de idade. Até mesmo a bateria, que sempre foi uma das bases do som de PJ, sai de cena para dar lugar a harpa e ao banjo.
White Chalk impressiona não só pela mudança repentina na carreira de PJ. O clima de desolação do álbum faz com que qualquer um que o escute encontre uma dor que não deveria existir. As letras ainda carregam a mesma carga emocional de antes, mas parece que dessa vez, PJ assume a idéia de quem chega ao fundo do poço, mesmo que seja apenas para mostrar uma nova fase de sua carreira. A cantora arriscou um estilo que agrada, não só pelo impacto que causa, mas também, pela simplicidade e beleza que tem.
Respeitável Público
Banda paulista transforma o espetáculo do picadeiro em canção
Imagine misturar a magia do circo, a fantasia da literatura, o lirismo da poesia e a força da música independente em um único palco. Todo esse emaranhado musical se chama O Teatro Mágico, formado em Osasco, SP, em 2003 e que tem conquistado o gosto do público.
Mais do que uma banda, O Teatro Mágico pode ser traduzido como um espetáculo musical-cirsense inspirado na obra literária O Lobo da Estepe, do alemão Herman Hesse. Como em uma nova montagem de Os Saltimbancos, de Chico Buarque, todos os integrantes se apresentam com vestes de palhaço e, no palco, além de música de qualidade, o show do grupo conta com participação de malabares, acrobatas e dança folclórica. As canções também são um show à parte: violões, violino, guitarra, baixo, percussão, flauta, DJs, gaita, xilofone, bateria e bandolin completam a performance do grupo.
Simplicidade. Essa é uma palavra que pode definir bem o som do grupo paulista. Mesmo repleto de referências musicais, em especial da cultura brasileira, - como o mais puro forró do nordeste até os violões doces que fazem companhia a arranjos de cordas sutis e delicados-, o que chama a atenção para o trabalho do Teatro Mágico é a maneira leve com que cada canção é apresentada ao público. As letras das músicas abordam temas do cotidiano. Os medos, as angústias e os desejos, como na canção A Pedra Mais Alta – “Quero você inteira em minha metade de volta”. É como se um “eu” lírico entrasse em cena e junto com palhaços, mágicos e afins narrasse uma história comum para quem estiver disposto a ouvir.
Sorte daqueles que se aventurarem a conhecer essa nova experiência musical. Os versos tocarão o espectador com a mesma delicadeza e sensibilidade de um poema escrito por Vinicius de Moraes e as melodias, somadas aos atrativos visuais do palco, completarão a fantasia comum dos palcos. Ou seria um picadeiro?
Aquele mesmo som de antes
Depois de 11 anos fora da estrada, banda britânica retorna aos palcos sem perder o estilo
Dizem que os artistas só conseguem fazer grandes trabalhos quando estão deprimidos ou admitem ter chegado ao fundo do poço. Dessa “tão-chamada dor”, eles buscam inspiração para compor canções que embalam as mágoas, angústias e medos de muitos fãs. Uma das bandas mais aclamadas da década de 90, Portishead, conhece tão bem essa teoria que, desde o início da carreira, nunca tentou mudar seu estilo.
Formado em Bristol, Inglaterra, em 1991, o Portishead ganhou admiradores por todo o mundo ao fazer um som diferente de tudo que já se tinha ouvido até então. O primeiro álbum do trio britânico, Dummy, lançado em 1994, dava uma nova face à música alternativa: o trip hop - uma forma mais lenta de gravar as músicas em estúdio- e, mesmo com a aversão dos integrantes da banda à mídia, tornou-se referência no estilo. Após 11 anos sem um disco de inéditas, o trio britânico está de volta à ativa com seu último trabalho, Third, lançado em abril deste ano.
Com a mesma sonoridade de antes e um clima ainda mais deprimente, Third não é nem de longe um avanço musical do Portishead. A única diferença em todo o álbum fica logo na primeira faixa, Silence. Em português, uma voz ecoa: “Esteja alerta para a regra dos três. O que você dá retornará para você. Essa lição você tem que aprender”. Mais adiante, ainda na mesma canção, a vocalista Beth Gibbons arranha alguns versos no idioma, “Ferida e temorosa dentro da minha cabeça... fracassando em mudanças... você sabe o que eu perdi?... você sabe o que eu queria?”. Fora esse passeio lingüístico, não há mais nada que denuncie uma possível mudança no estilo dos britânicos.
Todo o resto do disco preserva as mesmas características de antes: letras melancólicas que convidam o ouvinte a entrar em um mundo repleto de tristeza, sofrimento e lamúrias. Baterias pesadas e guitarras distorcidas se misturam às batidas eletrônicas que nada têm em comum com as Techno-house européias. Para completar esse melodrama musical está a inconfundível voz de Gibbons, que se perde entre um constante lamento e uma incômoda timidez de gelar os ossos de qualquer um. Prova de que em meio a tantos emotivos de butique, o Portishead consegue falar de depressão sem precisar que a franja de Beth Gibbons caia nos olhos.
Música POP com muito orgulho
Ingleses do The Tings Tings mostram que o universo pop também pode ser interessante
Pense em uma dupla de músicos de sucesso: White Stripes é o nome que vem logo à cabeça, certo? Errado! A Febre do momento são os britânicos do The Tings Tings. Katie White (vocal, guitarra e percussão) e Jules de Martino (bateria, guitarra e vocal) entraram de cabeça no universo musical para deixar bem claro que o propósito da banda é fazer POP.
Na estrada desde 2006, a banda havia lançado alguns singles pela Inglaterra, mas nada que causasse muito barulho. Em maio de 2008, chegava às lojas o álbum de estréia do duo: We Started Nothing. Aí sim, eles realmente conseguiram mostrar as caras no universo da música. O primeiro trabalho da dupla, That’s Not My Name, desbancou ninguém menos que Madonna nas paradas de sucesso do Reino Unido e fez a cabeça da crítica.
O estilo do The Tings Tings muitas vezes soa indefinido. Uma mistura de indie-rock, pop dançante, alt-rock que lembra um pouco os rapazes do Franz Ferdinand. Poderia até ser uma simples cópia, mas a coincidência é a melhor saída nesse caso. E outras várias coincidências vão surgindo ao longo das nove faixas do álbum. Mas, são apenas algumas cartas que a música pop tem escondia na manga. Assim como a boa e velha fórmula mágica: vocais sem muita força, refrões que grudam na cabeça, uma bateria marcada e algumas guitarras distorcidas apenas para dar um toque a mais no som.
O que torna o trabalho dos ingleses tão interessante é que eles são imprevisíveis. Podem até ser uma banda pop notória, mas ainda assim tem muito a oferecer. We Started Nothing é mesmo um passeio pelo que há de mais divertido na música. Um pouco de dance, algumas pitadas de indie rock e até uma balada para quebrar o clima do disco. Pena é que o prazo de validade no universo pop seja bem curto.